Tailani, uma das jovens representates da comunidade Wayoró, coordena as atividades para a realização das oficinas e para a construção coletiva da horta comunitária Wayoró, no âmbito do projeto Semear Cultura e Tradição
É quase meio-dia quando Tailani, jovem Wayoró representando a comunidade, avista a embarcação desde a barranca de Porto Rolim, em Rondônia, onde fica a Comunidade Tradicional Indígena Rolim de Moura do Guaporé. “Pegamos uma voadeira da saúde e viemos pro aterro esperar a chegada do material”, contou Tailani por uma mensagem vocal. “Voadeira” é uma embarcação a motor muito usada no transporte fluvial na região, e faz parte do dia a dia das pessoas que vivem na ilha fluvial de Porto Rolim.
Mas desta vez, a razão que levou Tailiani e outros jovens Wayoró (ou Wajuru) ao aterro sai do cotidiano. “Você não imagina nossa emoção”, contou, enquanto gravava um vídeo mostrando o caminho que devem fazer para se deslocar, e quais dificuldades há que se atravessar para conseguir levar o material da cidade até a comunidade.
A ocasião é especial: o grupo de jovens foi receber o caminhão que transportava o material adquirido para a construção da horta comunitária e do quiosque que serão realizados a partir do projeto Semear Cultura e Tradição, que visa contribuir ao fortalecimento dos saberes, práticas e tradições agrícolas e medicinais do povo Wajuru.
O trajeto que o Povo Indígena Wayoró percorre para poder ter acesso a cidade se torna difícil – explica Tailani – pois o povo não possui embarcações própria e poucas condições financeiras para pagar o valor dos frete. “Esse é o caminho que os materiais do projeto devem percorrer até chegar na comunidade. Os jovens Wayoró que que fizeram o carregamento são Samuel Antonio, Manoel, Adão e Tailani. O piloteiro da saúde indígena, Ronald, prestou suporte até o aterro, para que se pudesse chegar antes do caminhão, pois a balsa leva em media uma hora e meia para chegar”. Os jovens Wayoró saíram às nove da manhã e ficaram até o meio dia no aterro, carregaram do caminhão para a balsa, da balsa para o trator (que foi disponibilizado pela prefeitura) e do trator para o destino final. “O que eram mil tijolos se tornaram três mil pela quantidade de vezes que é movimentado”. Mas às cinco horas da tarde todo material já estava no seu destino final.
Tailani já tem claros os próximos passos: com o material à disposição na comunidade, podem começar a projetar a horta e a construir o quiosque, que será também um ponto de encontro para a comunidade e um espaço onde poderão vender os excedentes da produção agrícola.
A chegada do material dá também uma nova movimentação na comunidade e permite finalizar a preparação de oficinas para transmissão de saberes na comunidade, entre anciãos, adultos e jovens. “Hoje nos dividimos: eu e alguns parentes viemos buscar o material. Outros estão se preparando para o dia da oficina, pescando ou ensaiando as músicas”. Para Tailani, mais além dos benefícios materiais que a horta e o quiosque gerarão para a comunidade, o mais importante é o fortalecimento da articulação entre os parentes na sua luta pelos seus direitos, pela sua terra, pela sua independência econômica e pela sua auto-determinação.